A mídia já publicou matérias sobre o Padrão Brasileiro, a grande com críticas infundadas e sem o conhecimento dos cuidados tomados em todo o seu processo de desenvolvimento e implantação, como na Revista Veja 2136 de 28/10/2009 (“Jabuticaba elétrica – Obrigar os brasileiros a seguir um novo padrão e trocar todas as tomadas da casa é uma intervenção estatal absurda, inútil e dispendiosa. Deus nos livre dos comitês…”), ou tratando-o como uma coisa exótica – O Globo de 02/03/2014 (“Adaptador para uma ‘jabuticaba’ suíço-brasileira – Padrão de tomadas de três pinos já não é exclusividade do país e aceita parte dos plugues europeus”), ou até mesmo insinuando que determinados fabricantes se beneficiaram do novo padrão, como na Revista Época 1043 de 22/06/2018 (“Sete anos depois, quem ganhou dinheiro com as tomadas de três pinos?”).
Para ilustrar alguns dos conceitos equivocados que saíram na mídia, comentaremos a Figura 1, publicada na Revista Veja 2136 e no O Globo de 02/03/2014:
Figura 1: Modelos de tomadas citados na mídia
Modelo europeu – possui o terceiro pólo para o “terra” e permite inserção de nosso plugue padrão de 2 pinos, mas o inverso não é possível, pois os plugues europeus possuem modelos com base redonda, estando o terminal “terra” localizado na borda. Apesar da foto estar identificada como “modelo europeu”, trata-se do modelo alemão Schuko segundo norma DIN 49441, e portanto, podem ser encontrados outros modelos em uso nos países europeus.
Modelo americano – possui o terceiro pólo para o “terra” e é nosso conhecido dos tempos dos primeiros computadores pessoais importados, porém é incompatível com os plugues de pinos redondos pré-NBR 14136.
Modelo inglês – possui o terceiro pólo para o “terra” , mas é totalmente incompatível com nossos plugues de pinos redondos pré-NBR 14136. Este padrão é definido na norma inglesa BS 1363 de 1947 e como curiosidade, seu plugue inclui um fusível embutido de 13 A.
Modelo paquistanês – tal modelo “não existe”, uma vez que o Paquistão nunca foi um provedor de tecnologia. Era uma colônia inglesa e como tal, utilizava o padrão imposto pelo colonizador, a Inglaterra. Este “modelo” é na verdade o antigo padrão inglês definido pela norma inglesa BS 546 de 1934 e ainda hoje utilizado em algumas ex-colônias inglesas, como a África do Sul e a Índia. Possui o terceiro pólo de “terra” e como curiosidade, ele é totalmente incompatível com o padrão inglês adotado desde 1947, cuja adoção não provocou protestos populares porque as casas no pós-guerra só possuíam uma tomada, na sala, junto à porta de entrada, para ligar o ferro elétrico de passar roupa.
Modelo australiano – resultado de um acordo entre empresas que iniciaram a fabricação de material elétrico na Austrália, por volta de 1930, que adotaram um modelo lançado pela empresa americana Hubbell, mas que não chegou a se tornar o padrão americano. Foi escolhido – a exemplo do modelo inglês – porque as máquinas para confeccionar os pinos chatos eram mais simples que as que faziam os pinos cilíndricos. Hoje é um padrão definido na norma australiana AS/NZS 3112.
Modelo “universal” – ora, isto também “não existe”. Um padrão define os modelos de plugue e tomada, mas a foto mostra apenas uma tomada que recebe mais de um tipo de plugue: o americano de 3 pinos (sendo 2 chatos e 1 redondo), e plugues de 2 pinos redondos (pré-NBR 14136), tratando-se portanto, de um adaptador. Apesar de também ser compatível com os plugues de 2 pinos da NBR 14136, o designativo “universal” revela-se errado, pois ele é um adaptador que não aceita os plugues dos demais modelos, não foi informado sobre quantos países adotam o mesmo, e em sua época não estava definido o padrão brasileiro para plugues de 3 pinos redondos, que lhe é incompatível.
Modelo brasileiro – foi adotado após ampla pesquisa para ser compatível com a maioria de plugues de 2 pinos até então comercializados no país, incluir o terceiro pólo de “terra” e ter como base uma norma da International Electrotechnical Commission, a IEC 60906-1. Segundo a ABINEE, que é a entidade dos fabricantes de materiais elétricos, ele é compatível com 80% dos plugues pré-NBR 14136 e nenhum fabricante foi beneficiado por tal padrão, já que as datas estabelecidas pelo INMETRO foram harmonizadas com a capacidade da produção nacional dos novos componentes, e os consumidores não foram obrigados a trocar suas tomadas existentes.
Segundo O Globo de 02/03/2014, a Suíça também adotou tal padrão em 2013, o que confirmou sua boa relação custo x benefício.
Cabe ressaltar que os aparelhos elétricos com “dupla isolação” não devem ter conexão de aterramento e, portanto, já vêm de fábrica com plugue de dois pinos. É o caso de barbeadores, secadores de cabelo, carregadores para telefone celular, etc. Os plugues com 3 pinos são obrigatórios apenas em determinados aparelhos, de “classe de isolamento I”, como: refrigeradores, fogões, ferros de passar roupa, fornos de micro-ondas, etc. Notar que ficou eliminado aquele “fiozinho verde” que ficava enrolado na parte traseira da geladeira e que daquela forma não promovia nenhuma proteção contra choque elétrico.
E tendo sido mantida a compatibilidade com o diâmetro dos pinos dos plugues comercializados até então, o impacto para os consumidores na adoção deste padrão foi o menor possível!
A inexistência de um padrão universal de plugues e tomadas fica patente na Figura 2, onde estão mostrados alguns modelos, onde vemos da esquerda para a direita:
1 – O plugue europeu segundo a norma EN 50075;
2 – O plugue americano segundo a norma NEMA 5-15;
3 – O atual plugue inglês segundo a BS 1363 de 1947;
4 – O antigo plugue inglês segundo a BS 546 de 1934;
5 – O plugue australiano segundo a AS/NZS 3112; e
6 – O plugue brasileiro de 2 pinos segundo a NBR 14136. A opção de 3 pinos possui as mesmas dimensões.
Figura 2: Plugues de diversos padrões. A introdução do pino terra objetivando a segurança elétrica surgiu por volta de 1910.