Até meados do século passado, a questão dos resíduos sólidos em países como o Brasil não era uma preocupação dos engenheiros, que viam o “lixo” e a atividade “limpeza urbana” como assuntos prosaicos e dependentes de operações simples, repetitivas e executadas sem maiores preocupações com a técnica.
A limpeza das ruas estava a cargo de operários sem qualificação e a coleta domiciliar era feita, basicamente, por operários e carroças de tração animal, sendo os rios, o mar e os terrenos baldios nas periferias das cidades o destino de descarte do lixo. Assim, a gestão dos resíduos era desprovida de tecnologia e portanto de qualquer importância que merecesse a participação dos profissionais de engenharia para sua gestão.
O assunto “lixo” era, via de regra, deixado para ser tratado por qualquer funcionário das prefeituras, quando não como um “castigo” para quem não conseguisse uma posição melhor no quadro de funcionários municipais.
Com o crescimento da urbanização e da mudança de hábitos das pessoas – utilizando cada vez mais bens descartáveis e assim provocando o aumento exponencial da quantidade de lixo gerada – e com o advento da consciência ambientalista, o assunto limpeza urbana passou a ter cada vez mais importância, a começar pelo termo “lixo”, que passou a ser designado como “resíduo sólido”.
A crescente quantidade dos resíduos sólidos urbanos, entendidos como poluentes da natureza e com consequências negativas perenes no solo, nas águas e no mar, trouxe mais uma preocupação para os gestores das cidades, sempre preocupados com a crônica carência de recursos para prover os serviços básicos da população.
Vale ressaltar que as atividades de limpeza urbana em uma cidade típica brasileira representam a terceira rubrica mais importante do orçamento municipal, logo atrás da educação e da saúde. Por outro lado, o destino do lixo em lixões a céu aberto passou a ser um dos principais problemas ambientais a ser enfrentado pelas administrações municipais.
Este conjunto de circunstâncias fez com que a presença das técnicas de engenharia passassem a ser demandadas para racionalizar a prestação dos serviços de coleta domiciliar do lixo e para a construção de estruturas e equipamentos destinados a melhorar os problemas dos resíduos coletados.
A coleta do lixo domiciliar na cidade do Rio de Janeiro alcança mais de 20 mil metros cúbicos por dia. É uma atividade repetitiva, que requer regularidade e segurança, exigindo uma grande frota de veículos para operar de acordo com a chamada “logística reversa”, que deve ser planejada de modo a minimizar os custos e os incômodos para a população, exigindo modelos de otimização de roteiros – hoje disponíveis em softwares avançados – e que podem ser monitorados e calibrados por sistemas usando a ferramenta GPS.
Essa atividade tem, necessariamente, que contar com a participação de engenheiros de transporte e de sistemas, além de engenheiros que projetem, implantem, operem e que façam a manutenção da frota de veículos.
A destinação das grandes quantidades de resíduos domiciliares, escombros de demolições, descartes de pequenas indústrias e do comércio gerados na cidade – somente no aterro sanitário de Seropédica da Comlurb chegam cerca de 300 mil toneladas por mês – também é um desafio para a engenharia. Dispor adequadamente ou reaproveitar economicamente essa grande quantidade de materiais heterogêneos é uma questão que também depende muito dos engenheiros e envolve diversas modalidades de profissionais.
Há, por exemplo, diversas alternativas de reaproveitamento dos resíduos, sendo as mais viáveis a incineração com aproveitamento energético, a biometanização e a compostagem, com a produção de biogás e a transformação da fração orgânica em composto orgânico com uso na agricultura. Todas essas técnicas exigem equipamentos e gestão de engenharia.
A engenharia, em suas diversas modalidades, tem realizado muitas contribuições para tornar mais eficiente e segura a gestão dos resíduos sólidos urbanos. Contudo, o estado de limpeza das cidades, a coleta ineficiente – principalmente nas áreas mais pobres e de urbanização precária – e, especialmente, a destinação final dos resíduos em nosso país ainda deixam muito a desejar. À engenharia, portanto, ainda restam muitos desafios a serem resolvidos pela técnica, para alcançarmos uma situação, no mínimo, “adequada”.
Este conteúdo foi útil para você?