Exploração na Bacia do Paraná no período 1953-1998: o legado da Petrobras
Atividades pioneiras de reconhecimento geológico da Bacia do Paraná remontam ao último quarto do século XIX e ao primeiro do ...
A Sociedade Brasileira de Geologia, juntando-se a várias outras instituições nacionais, homenageia os 70 anos da Petrobras, empresa símbolo do desenvolvimento nacional e que patrocinou grandes avanços para a ciência e todo o setor industrial brasileiro. Iniciamos com o histórico sobre a exploração de petróleo e gás na Bacia Potiguar, localizada nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, e mensalmente daremos sequência sobre a exploração em outras áreas onde a empresa atuou ao longo das últimas décadas de sucesso e empreendedorismo.
A porção continental da Bacia Potiguar tem cerca de 31.300 km² e está situada quase sua totalidade no Estado do Rio Grande do Norte, com pequena área no Estado do Ceará. A porção submersa, com área de 62.700 km² até a cota de 3000 m de lâmina d’água, segundo dados da ANP, situa-se na Plataforma Continental adjacente. É a mais oriental das bacias da margem equatorial sendo geneticamente relacionada às bacias intracontinentais de idade neocomiana, Cretáceo Inferior, que compõem o sistema de “rifts” do Nordeste brasileiro.
PRIMÓRDIOS
Desde o ano de 1853 existem relatos da ocorrência de betume em pontos localizados na borda sul da bacia. O primeiro trabalho técnico data de 1922, no qual John Casper Branner associa as formações geológicas à possível existência de petróleo. Em 1929, Luciano Jacques de Morais recomenda trabalhos geofísicos na bacia e em 1938 o geólogo Avelino Ignácio (DNPM) enquadra a bacia como promissora para petróleo.
O início da história exploratória mais sistemática da bacia remonta à década de 1940, mais precisamente entre 1945 e 1949, com a realização de mapeamento geológico de reconhecimento pelo Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Entre 1951 e 1955 foram realizados os primeiros levantamentos sísmicos de reconhecimento, com métodos de Refração e Reflexão.
Com a criação da Petrobras, em 1953, e com base nesses levantamentos sísmicos, foram propostas, em 1956, duas locações no litoral norte: um poço estratigráfico em Gangorra e outro pioneiro em Macau. Após o insucesso desses poços, foram abandonados temporariamente os trabalhos na bacia. Em junho de 1956, após a perfuração do poço estratigráfico, o consultor americano Walter Link envia um ofício ao Departamento de Exploração da Petrobras, para Irnack do Amaral, afirmando: “Se as condições geológicas em Macau forem as mesmas que em Gangorra, a bacia de Mossoró pode ser considerada adequadamente testada e a bacia inteira pode ser descartada, sem valor do ponto de vista de um prospecto oleífero”. Macau viria a confirmar o poço de Gangorra: perfurou essencialmente uma seção carbonática e arenosa, com água doce, do Cretáceo Superior, com indícios de petróleo, mas sem condição de geração, a qual foi considerada incipiente para toda a bacia. Na década de 1960 foram retomadas as atividades com um excelente mapeamento geológico de superfície, e levantamento gravimétrico. Em 1970 foi realizado um levantamento aeromagnetométrico, seguido por sísmica de refração.
NOVOS INDÍCIOS DE PETRÓLEO
Poços perfurados para captar água, principalmente em Mossoró, mas também em outras regiões, como em Carnaubais, continuavam a apresentar indícios de petróleo. Na porção terrestre, com dados de levantamentos sísmicos de reconhecimento e detalhe foram perfurados três poços, em Quixaba e Pendências, sem sucesso. O poço estratigráfico de Quixaba abriu a frente para se pesquisar a seção do Graben Potiguar, do Cretáceo Inferior.
INÍCIO DA EXPLORAÇÃO NO MAR
Entre 1967 e 1971 foram realizados levantamentos sísmicos e aeromagnetométricos na plataforma marítima potiguar.
Em 1972, a exploração marítima por poços, iniciada em 1971 no litoral do Ceará, estendeu-se à costa do Rio Grande do Norte. Os esforços culminaram em êxito com a descoberta comercial de óleo em sedimentos aptianos da Formação Alagamar, através do poço 1-RNS-3, em setembro de 1973, que viria a ser o Campo de Ubarana.
O SUCESSO EM TERRA
Com o início da produção comercial de petróleo em Ubarana cresce o interesse novamente pela porção terrestre da bacia, quando então foi observada a presença abundante de óleo no poço perfurado para abastecer de água as piscinas do Hotel Termas de Mossoró, em novembro de 1979. Imediatamente a Petrobras decidiu perfurar um poço no local, para avaliar o potencial. Foi perfurado o 9-MO-13-RN e constatada a presença de óleo em arenitos da Formação Açu, cuja produção foi viabilizada, na época, pela 2ª crise mundial do petróleo. O poço Mossoró-13 foi cedido ao Hotel Termas, gerenciado na ocasião pelo Governo do Estado, para produção de água, e foi perfurado o gêmeo 9-MO-14-RN, iniciando-se assim a história da produção de petróleo na porção terrestre da Bacia Potiguar. Essa época dá início à instalação efetiva da Petrobras no RN.
A descoberta do Campo de Mossoró demonstrou que eram necessários estudos adicionais para uma avaliação mais precisa do potencial da bacia terrestre. Foi empreendida então, no biênio 1980/81, uma campanha de perfuração exploratória que resultou na perfuração de 93 poços exploratórios e 79 poços para desenvolvimento das novas descobertas. Destacam-se nesta época as descobertas de Fazenda Belém – CE, com grande extensão, a partir também de um poço perfurado para água, e o campo de Alto do Rodrigues. Esta última descoberta abriu uma grande frente que revelaria a presença de um “trend” petrolífero ao longo do bloco alto da falha de Carnaubais.
EXPLORAÇÃO SISTEMÁTICA
A partir de 1982 iniciou-se a exploração na bacia terrestre de uma forma mais sistemática. Estudos regionais puderam ser realizados com base nos dados geofísicos e em um número já razoável de poços, para um melhor entendimento da bacia. Os estudos geoquímicos, para identificar os geradores, e os estudos paleontológicos, para determinar a idade dos sedimentos, avançavam. Os trabalhos foram bem mais direcionados, resultando numa feliz sequência de novas descobertas. Inicialmente foram explorados os chamados prospectos rasos, quando foram descobertos os campos de Estreito, Macau, Fazenda Pocinho, Palmeira, Guamaré, além de outros. Com a descoberta de Serraria deu-se início à exploração de prospectos mais profundos, com ênfase na Formação Pendência, em sedimentos neocomianos, do Cretáceo Inferior. Nesta fase ocorreram as descobertas de Janduí, Rio Mossoró, Trapiá, Livramento, e a importante descoberta de Riacho da Forquilha no Graben de Apodi, porção oeste da bacia. Contudo, os prospectos rasos não foram esquecidos e importantes descobertas continuaram a acontecer, como Redonda, Alto da Pedra, Canto do Amaro, caracterizado como o maior campo da bacia em área (135 km²), se estendendo desde Mossoró em direção à Areia Branca, o qual, em 2003, contava com mais de 1200 poços perfurados.
Na Plataforma Continental, depois de Ubarana seguiram-se também várias descobertas importantes para produção de óleo e gás, como: Agulha, Pescada, Aratum, Cioba, Arabaiana, Dentão, Serra, dentre outros.
Nas décadas de 1980/90 foram adquiridos dezenas de levantamentos sísmicos tridimensionais (3D), tanto no mar, como em terra. Essa malha sísmica adensada trouxe novos progressos para a exploração da bacia, com o refinamento da interpretação. A partir de 1991 a aquisição sísmica 3D virou rotina na bacia terrestre. Entre 1996 e 2001 foram perfurados os 3 primeiros poços em águas profundas da bacia, adjacentes ao Ceará, em lâminas d’água entre 1100 e 1800 metros, sem sucesso.
Enquanto as descobertas se sucediam, foi sendo montada uma importante infraestrutura, como a instalação de uma Unidade de Processamento (UPGN) em Guamaré, que se tornaria uma mini-refinaria, além da implantação de oleodutos, gasodutos e plantas de injeção de vapor para recuperação secundária, em áreas com óleo mais pesado. As acumulações da Formação Açu, associadas a água doce, produziam óleo mais pesado, enquanto que as acumulações do “rift” continham óleo leve e gás. Também foi implantado um terminal marítimo próximo a Guamaré, para escoamento do óleo, principalmente para a refinaria da Bahia. Em meados da década de 1990, a produção diária de óleo equivalente na bacia ultrapassava os 100 mil barris diários, com 40 campos produzindo em terra e 8 no mar. Até o início de 2000, no mar já eram contabilizados 14 campos descobertos. Em 2012 as Reservas totais explotáveis da bacia eram de 411 milhões de barris de óleo e 9,92 bilhões de m³ de gás (ANP). A produção acumulada da bacia em 2012 alcançava os 793 milhões de barris de óleo e 26,6 bilhões de m³ de gás (ANP).
Ainda sob a égide do monopólio estatal do petróleo da Petrobrás, estabeleceu-se, a partir de meados dos anos 1980, a modalidade de concessões de áreas com cláusula de risco, quando várias empresas adquiriram blocos exploratórios, tanto no mar, como em terra. Somente as áreas com produção efetiva da Petrobras ficavam fora dessas licitações. Empresas como Elf e Pecten adquiriram blocos no mar, e em terra os destaques foram os blocos adquiridos pelas empresas Azevedo & Travassos e Camargo Corrêa. Ao final, os resultados foram pouco relevantes.
O FIM DO MONOPÓLIO
Com a quebra do monopólio estatal do petróleo, através da Lei 9.478, de agosto de 1997 e consequente criação da Agência Nacional do Petróleo para a regulação do setor, a Petrobras se viu obrigada a participar como concorrente nos leilões de blocos exploratórios ofertados periodicamente pela ANP, com a primeira licitação ocorrendo em 1999. Desta maneira, em fins de 2003 a Petrobras era concessionária de blocos marítimos e também vários blocos na bacia terrestre, geralmente localizados próximos às áreas produtoras. Alguns eram exclusivos, porém vários foram adquiridos em parcerias com outras empresas, tais como: El Paso, Partex e Petrogal. Empresas como Marítima e Potióleo possuíam também blocos exclusivos. Em 2023 a Petrobrás ainda possui concessões em águas profundas da Bacia Potiguar, na denominada Margem Equatorial. Resultado expressivo se deu no bloco BM-POT-17, (Petrobras/BP/Petrogal) com a descoberta, em 2013, de Pitu, a primeira em águas profundas da Bacia Potiguar. O poço Pitu Norte-1 confirmou a descoberta, em lâmina d’água de 1844 metros, a 60 km do litoral potiguar, porém a área se encontra ainda em avaliação, com foco na economicidade.
PERSPECTIVAS FUTURAS
A Bacia Potiguar terrestre é considerada hoje uma bacia madura. Observa-se um declínio da produção, em uma área que já foi a maior produtora de petróleo “onshore” no Brasil e com milhares de poços perfurados. Em 2015 a Petrobras aprovou seu plano de desinvestimento, com uma produção ainda de 64 mil barris/dia de óleo equivalente. Em 2019 a produção estava em 40 mil barris /dia. Os ativos foram vendidos, inclusive a Refinaria Clara Camarão, de Guamaré. As principais empresas que operam os ativos hoje são: Potiguar E&P, subsidiária da PetroReconcavo e a 3R Petroleum, que chegou em 2020, assumindo a operação do Polo Macau e depois adquiriu toda estrutura restante. Empresas estas que prometem altos investimentos para manter a produção.
CONCLUSÕES
A Petrobras, com foco atual no pré-sal e avaliação em águas profundas, acabou por fazer sua escolha. Acompanhamos, com satisfação, o sucesso exploratório na Bacia Potiguar, proporcionando desenvolvimento econômico e social nas áreas terrestres de atuação, principalmente nos polos de Mossoró e Guamaré. Inúmeras empresas de prestação de serviços foram criadas nesse período, alavancando o desenvolvimento da região. Cursos de nível técnico e superior foram criados para formação de mão de obra. Muitos municípios e proprietários de terras foram beneficiados com os “royalties” advindos do petróleo, os quais almejam a continuidade desse processo. Certamente ainda existe petróleo a ser descoberto na bacia. Se as novas empresas vão explorar ou somente produzir, é uma questão aberta para o futuro.
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