A Engenharia Clínica iniciou no Brasil por volta de 1995 através de cursos de especialização. Hoje existem mais de 30 cursos que formam especialistas aptos a atuar na área. No Brasil, foi definida como “aplicação das técnicas da engenharia no gerenciamento dos equipamentos de saúde com o objetivo de garantir a rastreabilidade, usabilidade, qualidade, eficácia, efetividade, segurança e desempenho destes equipamentos, no intuito de promover a segurança dos pacientes.” No período de maior crise na pandemia, os profissionais de Engenharia Clínica foram valorizados mundialmente.
Em outubro de 2021, eu, Alexandre Ferreli Souza, Eng. em Eletrônica registrado no Rio de Janeiro, fui premiado internacionalmente pelo trabalho que realizei na pandemia liderando a Associação Brasileira de Engenharia Clínica (ABEClin). O reconhecimento foi feito pela Divisão de Engenharia Clínica do International Federation for Medical Electronics and Biological Engineering.
Este prêmio reconhece um indivíduo que fez uma contribuição regional ou internacional notável para o campo da Engenharia Clínica. O prêmio busca indivíduos que tenham demonstrado um impacto significativo no campo da Engenharia Clínica, tenham contribuído significativamente para o desenvolvimento da profissão de CE e cujas atividades em uma organização nacional ou internacional para CE tenham sido meritórias.
No período de maior crise da pandemia, busquei criar várias ações para auxiliar todos os técnicos, tecnólogos e engenheiros atuantes na área hospitalar. Criei um repositório de informações sobre COVID, em linha direta com a Organização Mundial de Saúde e várias associações do exterior; coordenei a execução de dois documentos específicos para os profissionais de Engenharia Clínica, o primeiro voltado para a segurança, higiene e cuidados no trabalho, e o segundo voltado para orientações sobre os requisitos de infraestrutura para tornar o ambiente seguro; entrei em contato com a Associazione Italiana Ingegneri Clinici (AIIC), fiz uma entrevista com sua Diretoria e a divulguei para todos os profissionais atuantes em Engenharia Clínica do Brasil.
As informações contidas na entrevista auxiliaram muitas unidades de Engenharia Clínica. Coordenei pesquisas e a divulgação sobre split de ventiladores (um ventilador para vários pacientes), uso de aparelhos de anestesia como ventilador, divulguei e apoiei o desenvolvimento de novos ventiladores; busquei parcerias para o apoio psicológico dos profissionais que estavam na linha de frente, pois muitos pediram demissão com medo de morrer; coordenei o suporte de mão de obra ao projeto +Ventiladores, que teve como objetivo recuperar ventiladores com defeito da rede pública para serem reparados por montadoras, SENAI, e outros participantes. A ABEClin entrou no projeto auxiliando no desenvolvimento de protocolos para recepção dos equipamentos, manutenção, validação e entrega.
Os profissionais de Engenharia Clínica (empresas, engenheiros, tecnólogos e técnicos) foram convidados pela ABEClin para fazer parte do voluntariado com objetivo de treinar e ajudar as equipes envolvidas e fazer a validação final do equipamento (calibração e análise de segurança elétrica). Foram mais de 150 profissionais e 20 empresas que atuaram em todo o Brasil.
Entrei em contato com o Sistema Confea, que reduziu a 10% do valor a contribuição para Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), de modo que os profissionais de Engenharia atuantes no projeto +Ventiladores pudessem registrar em seu acervo técnico o trabalho realizado com um baixo custo. Trabalhei em conjunto com a empresa Arkmeds, permitindo o acesso gratuito ao curso “Introdução à Manutenção de Ventiladores”. O curso serviu como primeiro treinamento aos envolvidos no projeto +Ventiladores. Por uma solicitação da presidência da ABEClin e arcando com todos os custos, o curso foi traduzido para o espanhol e liberado para América Latina. Foram mais de 1.900 profissionais treinados oriundos de mais de 12 países.
O meu trabalho foi reconhecido internacionalmente. Mas sei que muitos outros engenheiros, técnicos e tecnólogos fizeram a sua parte. Ficamos na linha de frente garantindo que os equipamentos de suporte à vida funcionassem corretamente e em caso de manutenção, que o tempo de parada fosse mínimo.
O meu prêmio eu compartilho com todos os profissionais de Engenharia que estiveram na linha de frente e ajudaram a salvar vidas!
Eu sempre digo que podemos escolher onde morar, o carro que comprar, mas a unidade de saúde é sempre a mais próxima, pois minutos fazem a diferença. E hoje, a Medicina é dependente da Tecnologia, ou seja, da Engenharia.
Já parou para pensar em um hospital sem engenheiro?
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