O Carnaval do Rio de Janeiro é um evento que ocorre todos os anos e envolve um grande público, desde a produção, organização dos desfiles e a plateia. No início, as escolas de samba não eram chamadas de escola, apesar de seus criadores assim a designarem. Elas eram tratadas pela população e pela imprensa como blocos de Carnaval. O termo escola só começou mesmo a ser empregado a partir de 1932, quando aconteceu o primeiro desfile oficial de escolas de samba do Rio de Janeiro. Ele foi vencido pela Mangueira, uma das primeiras escolas de samba a ser fundada.
Nas últimas três décadas (1992 a 2022), ocorreram alguns acidentes durante o evento dos desfiles no sambódromo, dentre eles, é importante mencionar o maior incêndio ocorrido no Sambódromo (em 1992), onde um carro alegórico da Viradouro pegou fogo um pouco antes do final do desfile, enquanto chegava à dispersão.
Em 2003, a Unidos da Tijuca vivenciou um incidente com a atriz Neuza Borges, que caiu enquanto desfilava como destaque na quarta alegoria. Em 2007, chamou atenção outro susto da Unidos da Tijuca, quando um princípio de incêndio no abre-alas assustou as pessoas durante o Desfile das Campeãs. Naquele mesmo ano, o carro abre-alas da Grande Rio, pegou fogo quando já havia deixado a avenida e passava pela Rua Frei Caneca.
Em 2017, houve acidentes do Grupo Especial após problemas com carros alegóricos durante dois dias. O mais grave aconteceu no primeiro dia, no desfile da Paraíso do Tuiuti, quando 20 pessoas foram prensadas por uma alegoria desgovernada. O carro bateu na grade do Setor 1 no momento que fazia uma curva, e atingiu as pessoas que estavam no local. Uma das vítimas, a radialista Elizabeth Ferreira Jofre, de 55 anos, morreu dois meses depois do acidente, após ter seu quadro de saúde agravado. Já no segundo dia de desfile, a estrutura de um carro da Unidos da Tijuca cedeu e pelo menos 15 pessoas ficaram feridas.
Em 2019, um homem que atuava como empurrador ficou ferido após tumultuada saída do carro abre-alas da Portela na dispersão da Sapucaí. O profissional foi prensado entre as duas partes do carro. Em 2020, a última alegoria da Acadêmicos da Santa Cruz atingiu parte de uma estrutura ao tentar entrar no Sambódromo, numa situação que não deixou feridos.
Por fim, em 2022, a noite de desfile das escolas de samba foi marcada por um acidente com uma menina de 11 anos na dispersão do Sambódromo. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a menina precisou amputar uma perna em cirurgia, mas não resistiu e veio a óbito.
Além de todos os acidentes ocorridos que foram relatados neste artigo durante os últimos 30 anos no sambódromo, ocorreram também alguns acidentes nos barracões, na cidade do samba (Gamboa), e o último ocorrido levou a interdição de todos os barracões do Grupo Especial (localizados na cidade do samba). O acidente ocorreu no barracão da São Clemente, em agosto de 2017, onde levou a óbito um escultor de alegorias, após ser eletrocutado. Ocorreram fiscalizações e o Ministério do Trabalho interditou todas as atividades desenvolvidas nos barracões por problemas com instalações elétricas e falta de condições de trabalho.
Neste mesmo ano (2017), todas as escolas de samba do Grupo Especial contrataram profissionais da segurança do trabalho (para os barracões) para que fossem atendidas as exigências do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) para a desinterdição. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, foi a única escola que investiu em uma profissional da Engenharia de Segurança do Trabalho para que todas as exigências fossem cumpridas e para que a escola de samba regularizasse todos os setores e frentes de trabalho conforme a legislação (as normas de segurança do trabalho – Lei n° 6.214/77 – Portaria n° 3.214/78).
As demais escolas contrataram Técnicos de Segurança do Trabalho e a Liga Independente das Escolas de Samba do RJ (LIESA) contratou uma consultoria de Segurança do Trabalho para que fosse responsáveis pela fiscalização de todas as escolas da cidade do samba, em prol do atendimento e cumprimento das exigências impostas pelo MTE (para a desinterdição).
A profissional Engenheira de Segurança do Trabalho contratada pela Escola de Samba Grande Rio, foi a autora deste artigo, no qual posso relatar a importância do investimento e acompanhamento deste setor “full time” em todo processo construtivo nos barracões, pois somente um setor de segurança poderá auxiliar na elaboração de procedimentos e liberação de trabalhos com acompanhamentos e minimizando os riscos de acidentes.
Nestes meses de trabalho para a Grande Rio, foi notório a carência de conhecimentos e informações relevantes para a saúde e segurança do trabalhador. Neste período, foram criados procedimentos, muitos treinamentos das equipes, e acompanhamento em todos os turnos de trabalho e em todas as frentes de trabalho (soldas, montagens, trabalhos em altura, pinturas, etc.).
Foram adequados para a área de Segurança do Trabalho: todas as instalações elétricas, sinalizações, investimento com E.P.I.’s (Equipamentos de Proteção Individuais), organização de toda área de trabalho, armazenamento de produtos inflamáveis, sistema de incêndio, iluminação eficiente, controle de insetos, etc., e foram adequados para área de Saúde e Higiene: Limpeza em bebedouros de água potável, limpeza dos banheiros e vestiários, e Refeitório. Tudo era controlado por uma equipe gerenciada por mim, com fiscalizações diárias. Foram atendidas todas as exigências documentais e no local, o barracão foi desinterditado, como os demais também foram e durante o desfile de 2018 tiveram fiscalizações do MTE, Crea-RJ, e CBMERJ.
Além do todo o investimento da Escola de Samba Grande Rio para a Segurança do Trabalho para as frentes de serviços, foram investidos também equipamentos de segurança em todos os carros alegóricos (escada de emergência acoplada, extintores de incêndio e cintos de segurança para os destaques acima de 2 metros de altura). O Crea-RJ exigiu as Anotações de Responsabilidades Técnicas (ART’s) para o sistema hidráulico dos carros, sistema elétrico (a base de geradores) e para o sistema de segurança. Três importantes engenharias se responsabilizando pelo funcionamento correto de todo sistema interligado, baseados em projetos dos carros alegóricos (Engenharia Mecânica / Elétrica / Segurança do Trabalho).
A fiscalização do Crea-RJ deverá estar envolvida em todo processo construtivo, acompanhando todas as etapas, até o fechamento do desfile, pois as orientações para as diretorias das escolas de samba devem cumprir rigorosamente todo procedimento detalhado pelo Crea-RJ para que não haja mais acidentes durante a construção dos carros, no deslocamento até o sambódromo, durante o desfile, e na dispersão, pois todos os cuidados deverão ser redobrados para que não ocorram mais nenhum tipo de acidente relatados neste artigo, em todos as etapas do carnaval (barracões, durante os desfiles e na dispersão).
Referências Bibliográficas:
EBC. Primeiro Desfile das Escolas de Samba. 2012. Disponível em: https://tvbrasil.ebc.com.br/delapraca/episodio/primeiro-desfile-das-escolas-de-samba#:~:text=O%20termo%20escola%20s%C3%B3%20come%C3%A7ou,de%20samba%20a%20ser%20fundada. Acesso em: 05 de julho de 2022.
EXAME (Agência O Globo). Carnaval do RJ já teve acidentes com alegoria desgovernada e incêndios. 2022. Disponível em: https://exame.com/brasil/carnaval-do-rj-ja-teve-acidentes-com-alegoria-desgovernada-e-incendios/. Acesso em: 05 de julho de 2022.
RIGEL, Ricardo. Barracões da Cidade do Samba são interditados pelo Ministério do Trabalho. Plataforma O Globo. 2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/barracoes-da-cidade-do-samba-sao-interditados-pelo-ministerio-do-trabalho-21973534. Acesso em: 05 de julho de 2022.
TESI, Romulo. Escultor morre eletrocutado no barracão da São Clemente. Plataforma Uol. 2017. Disponível em: https://setor1.band.uol.com.br/escultor-morre-eletrocutado-no-barracao-da-sao-clemente/. Acesso em: 05 de julho de 2022.
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