Agricultura e sustentabilidade na era da inteligência artificial
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A destinação dos diferentes xenobióticos aplicados no solo tem recebido atenção especial da comunidade científica, que procura, além de orientar seu emprego de forma correta, racional e eficiente, possibilitar que sua ação cause o mínimo de danos ao ambiente. Estudos mostram que os agrotóxicos são os xenobióticos mais utilizados na atividade agropecuária, sendo estes empregados em áreas de pequena a grande extensão, permitindo o controle efetivo de espécies daninhas, pragas e doenças.
Os agrotóxicos são substâncias químicas ou biológicas, desenvolvidas para combater organismos indesejáveis, podendo ser classificados como inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas, nematicidas, dentre outros. Entretanto, por mais que essa função letal dos agrotóxicos seja direcionada, estes também podem causar danos fora do alvo, como problemas à saúde dos produtores e danos ambientais, principalmente quando utilizados de forma incorreta.
Os riscos quanto a utilização de agrotóxicos podem ser potencializados quando o uso destas moléculas é realizado em um contexto de carências estruturais e de vulnerabilidades sociais, com ausência de processos de qualificação dos agricultores envolvidos na produção, principalmente no que tange os agricultores familiares. Os trabalhadores rurais carecem de proteção e cuidado com sua saúde e de informações básicas sobre os riscos inerentes ao uso de agrotóxicos. O uso incorreto dos agrotóxicos – concentrações inadequadas, não indicação para a cultura alvo, não observância de tempo de carência, entre outros – está também na base da maior exposição e consequente danos à saúde e ao ambiente, com potencial de contaminação do solo e água.
Depois que os agrotóxicos são aplicados nas plantas e no solo, o seu comportamento é determinado por alguns processos, dentre eles os físicos, químicos, físico-químicos e também biológicos. Não só esses processos estão envolvidos no destino dos agrotóxicos no ambiente, mas também diferenças na estrutura e propriedades físico-químicas das moléculas, pois cada molécula interage de uma forma diferente com o solo, além das características e condições ambientais que afetam diretamente esses processos. Fatores como as condições meteorológicas, o tipo de população dos microrganismos presentes no solo, o tipo de topografia da área, as práticas de manejo do solo, também podem afetar o destino final dos agrotóxicos no meio ambiente. As consequências da contaminação dos agrotóxicos sobre o solo, a água e os microrganismos presentes, estão relacionadas ao tempo de permanência das substâncias utilizadas, com os seus resíduos acima do necessário para exercer a função para a qual foram determinados.
Sabe-se que a utilização de práticas de manejo que estimulem a degradação de agrotóxicos no solo, associadas a uma correta e segura forma de aplicação, podem minimizar os danos aos cultivos subsequentes, ao solo, aos lençóis freáticos e ao homem.
O Estado do Rio de Janeiro abrange diversos municípios onde a agricultura familiar desempenha um papel fundamental. Esse tipo de produção agrícola concentra-se, predominantemente, na Região Serrana, sendo esta o principal pólo agrícola do estado. Entretanto, a Baixada Fluminense tem apresentado crescimento nas atividades agrícolas, sendo esta produção importante para o abastecimento da região metropolitana da capital. Em ambas regiões do Estado, cabe destacar que parte destes produtores utilizam o sistema convencional de cultivo, ou seja, utilizam agrotóxicos no sistema de produção.
Dessa forma, é de suma importância a orientação e conscientização de produtores rurais convencionais, por meio de assistência técnica, referente à utilização de agrotóxicos e todas as problemáticas em relação à saúde, provenientes do uso e exposição inadequada a esses produtos. Além de todos os malefícios pessoais, é preciso esclarecer sobre os danos que podem ser acarretados devido ao descarte incorreto de embalagens, aplicação de produtos realizado de forma inadequada e possíveis consequências ambientais oriundas do aporte de agrotóxicos no sistema de produção.
Assim, diante dos problemas relacionados ao manejo inadequado dos agrotóxicos e riscos de contaminação ambiental e à saúde dos produtores, o grupo de pesquisa em Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – PDPA/UFRRJ possui em andamento dois projetos aprovados junto ao Comitê Guandu e à Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – AGEVAP – Edital de Chamamento Público nº 008/2019. O objetivo é capacitar produtores convencionais das cidades de Itaguaí e Seropédica, ambas do Rio de Janeiro, quanto à correta utilização de agrotóxicos, auxiliando o produtor nas boas práticas no campo, minimizando assim os riscos ao ambiente e à saúde da população local. Esta capacitação tem foco no uso dos agrotóxicos e EPI’s (Equipamento de Proteção Individual) de forma adequada, aplicação e descarte de embalagens, além da conscientização dos problemas de saúde que podem ser originados devido à exposição a tais substâncias de forma inadequada, evitando assim a contaminação do produtor e do ambiente (solo e água).
PDPA/UFRRJ
O PDPA está situado no Instituto de Agronomia da UFRRJ e foi instituído oficialmente no ano de 2016. O grupo é liderado pela professora Dra. Camila Ferreira de Pinho e pelo professor Dr. Aroldo Ferreira Lopes Machado e investe em pesquisas na área de manejo de plantas daninhas em áreas agrícolas e não agrícolas, preconizando diminuir os riscos de contaminação humana e ambiental e solucionar os problemas de importância regional/nacional de forma sustentável e produtiva.
Figura 1. Integrantes do grupo PDPA e palestrantes do IV Simpósio de Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente, realizado anualmente na UFRRJ. 2019. Seropédica-RJ.
Atualmente o grupo possui 22 integrantes, entre alunos de graduação e pós-graduação, e objetiva atividades de ensino, pesquisa e extensão. Dentre as atividades realizadas, destacam-se as reuniões semanais onde ocorrem apresentações de temas variados no âmbito das ciências das plantas daninhas e afins, discussões de artigos científicos, visitas técnicas e vivência prática no campo, com visitas a produtores rurais. Nosso compromisso é auxiliar no desenvolvimento técnico e científico dos estudantes, além de desenvolver parcerias com produtores e empresas, os quais permitem a realização de projetos multidisciplinares, proporcionando conhecimento de diferentes áreas e soluções para os desafios do campo.
Contamos com uma equipe engajada e comprometida em gerar ensino, pesquisa e extensão de qualidade. Para tanto, realizamos anualmente o Simpósio de Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente (Figura 1), evento que conta com a participação de palestrantes renomados e contempla pesquisadores, estudantes, produtores e profissionais como público alvo. O evento está em sua quinta edição, oferecendo aos participantes capacitação e conhecimento com o objetivo de auxiliar na tomada de decisão no campo, economia de recursos e conservação do meio ambiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PERES, F.; MOREIRA, J.C. – Saúde e ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em um polo agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil – Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro 23, p. 612-621, 2007.
PREZA, D. L.; AUGUSTO, L. G. Vulnerabilidades de trabalhadores rurais frente ao uso de agrotóxicos na produção de hortaliças em região do Nordeste do Brasil. REV. BRAS. SAÚDE OCUP., São Paulo, 37 (125): 89-98, 2012.
RIBEIRO, B. H. D.; VIEIRA, E. A. Avaliação do potencial de impactos dos agrotóxicos no meio ambiente. São Paulo: Centro de P&D de Proteção Ambiental, Instituto Biológico, 2010.
SPADOTTO, C. A.; SCORZA JUNIOR, R.P.; DORES, E.D.C.; GEBLER, L.; MORAES, D. D.C. Fundamentos e aplicações da modelagem ambiental de agrotóxicos. Embrapa Territorial-Documentos (INFOTECA-E), 2010.
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