Realizar projetos arquitetônicos não se limita apenas a criar ambientes com conforto, pensando apenas nas necessidades e exigências dos seus ocupantes. É necessário, antes de tudo, ter ciência das normas e legislações que se referem à segurança da edificação. Para isso, é fundamental pensar, desde o início, em como o projeto vai atender à segurança, para salvar vidas no caso de sinistros.
Baseando-se na ABNT NBR 15661, norma que está em vigor em todo território nacional, serão abordadas quais são as exigências que buscam reduzir os efeitos nocivos dos sinistros e preservar a integridade física das pessoas que transitam nos túneis. Esta pesquisa tem por objetivo analisar as exigências, apresentando os tipos de medidas preventivas contra incêndio em túneis, a fim de que seja reconhecida a sua importância.
Foram abordadas, inclusive, através de exemplos reais, tecnologias usadas para minimizar acidentes. Elas são interligadas em todo o sistema do túnel, podendo, assim, prever e prevenir incêndios, mantendo-o mais seguro e confiável para seus transeuntes.
Em meio a tantos desastres ocorridos no Brasil e no mundo, surge a necessidade de buscar conhecimento acerca de um tipo de acidente que mata milhares de pessoas e, sempre que este acontece, traz prejuízos e danos irreparáveis à sociedade como um todo.
Em concordância com uma pesquisa elaborada pelo Instituto Sprinkler Brasil (2015), foi identificado que o Brasil está em terceiro lugar no ranking mundial de mortes por incêndio. A constatação se baseia no cruzamento de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) com uma pesquisa realizada pela Geneva Association.
Em 2011, o Sistema de Informações sobre Mortalidade do SUS registrou 1.051 mortes por incêndio ou por exposição à fumaça, enquanto os Estados Unidos tiveram 3.192 óbitos e o Japão teve 1.750 mortes pelo mesmo motivo, em concordância com a pesquisa World Fire Statistics da entidade internacional.
O Governo Federal, cada Unidade Federativa, bem como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) passaram a editar muitas vezes, de forma independente, diversos documentos legais ou normativos, em diferentes períodos, com o conhecimento e as experiências disponíveis em cada época, ou, ainda, para salvaguardar as falhas que originaram tragédias específicas. A maioria deles foi atualizada durante o percurso temporal e outros permanecem inalterados, constituindo o ordenamento jurídico e técnico que é apresentado hoje.
Antes mesmo de falar da implantação do sistema de combate a incêndio, é importante abordar a operação do túnel, atividade principal onde pode ser considerada o coração de todo o sistema, e para definir qual o tipo de operação um túnel deve ter, deve-se analisar qual tipo de serviço será realizado e para qual parcela da população.
Em concordância com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), “Os túneis têm problemas particulares em emergências. Ocorrências já registradas destacam as consequências da falta de procedimentos operacionais do túnel.”. Por este motivo, deve ser bem criteriosa a finalidade do túnel em que será implantado o sistema de combate a incêndio.
A capacidade do operador do Centro de Controle de Operações do túnel é indispensável para a segurança do usuário, pois é necessária a observação, em tempo hábil, para auxiliar na redução de velocidade, bloqueio no tráfego, colisão, incêndio, informações da situação da pista e implantações de mitigação, “O melhor dispositivo na luta contra o incêndio está baseado na rapidez do atendimento inicial, mediante os procedimentos operacionais adotados e o envio dos recursos necessários”.
Manter os usuários informados sobre as características e condições do túnel, comportamento a ser observado durante a travessia, assim como manter a presença constante de fiscalização visual e sonora ajudam a atingir um nível mais alto de segurança. Procedimentos operacionais, planejamento, manutenção preventiva, corretiva e emergencial de todos os sistemas, plano de gerenciamento, treinamento sob os cenários das situações de emergências e plano de respostas à emergências são de responsabilidade da gestão de operação do túnel, e devem ser bem elaborados, atualizados e colocados em prática diariamente através de treinamentos.
Todos os procedimentos operacionais devem incluir os agentes participantes, pois, dependendo da natureza da emergência, os mesmos devem ser acionados, sendo considerados apoiadores: corpo de bombeiros, serviço de atendimento médico de urgência, hospitais, polícia militar e rodoviária, defesa civil, departamento de obras públicas, órgão regulador ambiental, distribuidoras de gás, eletricidade, telefonia fixa e móvel, abastecimento de água, transporte público, empresas com equipamento de construção pesada disponível, departamento de controle do solo, serviços de guincho e operadores de rodovias e/ou transporte municipal.
Os túneis expõem problemas específicos de combate às situações de incêndio, com isso, devem manter em seus procedimentos o gerenciamento das situações de incêndio e emergências, assim como sua revisão e atualização devem conter todos os dados que permitam a identificação dos responsáveis, diretrizes e entidades participantes.
Em certos casos, após definição da engenharia sobre o elevado risco de incêndio, deve-se manter a brigada de incêndio 24 horas disponível. Todos os túneis rodoviários, metroviários e ferroviários deverão possuir plano de emergência e contingência, visando à garantia da segurança física e patrimonial de todo o túnel.
Quando está nascendo um novo túnel, em sua fase de projeto, têm de ser feitas as análises de riscos, e, antes de sua operação, a análise de conformidade para verificação das instalações, dispositivos/equipamentos de segurança recomendados pela análise de riscos. A metodologia de análise de riscos para túneis deve ser aplicada para túneis viários e deve ser efetuada pelo projetista do túnel a partir da fase de viabilidade de projeto e construção. Deve ser apresentada como relatórios e desenhos e fazer parte da documentação de segurança e direcionada às autoridades constitutivas para análise e aprovação.
A composição do túnel e seus sistemas devem ser projetados para resistir, controlar, remover o calor, gases tóxicos e a fumaça gerados durante o incêndio. São considerados importantes, a escolha de um projeto de incêndio e os cenários que podem ocorrer nos túneis. Na elaboração dos projetos, as considerações devem ser feitas com os requisitos mínimos. Os acidentes com a ocorrência de incêndios no interior de túneis são raros, no entanto, os efeitos podem ser devastadores, ocasionando elevado número de vítimas fatais, danos materiais e interrupção do tráfego por longos períodos, com prejuízos nacionais e internacionais.
A formação do túnel, os sistemas de combate a incêndio, controle, remoção dos gases tóxicos e fumaça devem ser projetados considerando: tipos de veículos e cargas associadas; corpulência de tráfego; comprimento do túnel; quantidade de túneis – singelos ou gêmeos; sentido do tráfego – unidirecional ou bidirecional; material de construção do túnel; operação do túnel; disponibilidade de equipamentos para combate a incêndio; disponibilidade de equipamentos para detecção de incêndio; disponibilidade de equipamentos para controle e eliminação de fumaça; tempo estimado para chegada da brigada de incêndio ao local do incidente; disponibilidade de saídas; capacidade do sistema de ventilação; disponibilidade de pista de acesso de viaturas de primeiros-socorros; gradiente do túnel; potência do incêndio (MW); sistema de coleta de líquidos.
Deve-se ressaltar que o comprimento do túnel é o fator determinante para a definição do sistema de combate a incêndio, bem como as condições do túnel durante a sua ocorrência. As saídas de emergência devem conduzir os usuários ao exterior do túnel.
Túneis com extensão inicial de 200 m até 500 m devem ser providos de sistema de hidrantes com tubulação que possa permanecer seca, porém com controle de abastecimento em ambas as extremidades do túnel. Túneis com extensão acima de 500 m devem ser providos de sistema de hidrantes, conforme a ABNT NBR 13714:2000, considerando-se um sistema Tipo 3 ou maior, se determinado pela análise de incêndio, com reserva de incêndio que propicie o combate a incêndio por 30 min, com previsão de dois hidrantes funcionando simultaneamente, com uma pressão de 400 kPa no hidrante mais desfavorável. Túneis com extensão acima de 2000 m devem atender aos itens anteriores e ter sua proposta de proteção por hidrantes analisada por órgão competente.
Ao fim do artigo, conclui-se que a pesquisa realizada ampliou o conhecimento a respeito do sistema de incêndio e forneceu informações importantes para serem compreendidas a importância e complexidade das medidas de prevenção contra incêndio em túneis. Buscou-se também apresentar a importância de projeto bem estruturado, prevendo os possíveis incidentes e impactos que um acidente dentro do túnel pode causar. Tendo em vista esclarecer a importância de um sistema de prevenção contra incêndio em túneis, foram mencionados os principais equipamentos/sistemas utilizados de maneira a evitar surtos, panes, acidentes e impacto à sociedade.
Este conteúdo foi útil para você?