Nunca se deu tanta visibilidade à área de Supply Chain como nos últimos tempos. A pandemia afetou a cadeia global de suprimentos, a crise geopolítica instaurou uma nova crise econômica, gerando dificuldades nas negociações ao redor do mundo.
O setor de compras, ou Procurement, foi um grande protagonista diante de um cenário de incertezas, sendo uma importante engrenagem para o funcionamento das empresas. No contexto pandêmico e pós-pandêmico, verificou-se a falta de insumos e embalagens na indústria, a alta do dólar, que deixou alguns insumos importados com valores flutuantes, e, de forma relevante, a inconsistência no prazo de entregas dos produtos.
De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV), em fevereiro de 2021, 42,5% das empresas reclamavam da falta ou alto custo da matéria-prima. No mesmo mês de 2022, apesar do problema amenizado em relação a 2021, este número alcançou 57,6%.
As consequências percebidas pela indústria em decorrência da escassez de insumos, demonstram que muitas das cadeias se tornaram mais caras, em consequência da absorção dos riscos da pandemia, com uma curva de aprendizado, em todos os setores.
A demanda acima do esperado não foi apenas interna. Com o controle da pandemia em outros países do mundo, particularmente na China, a demanda externa por commodities brasileiras explodiu.
O aumento de consumo da China levou a uma alta de preços das commodities, cujos valores são definidos por negociações em bolsas internacionais. A combinação de alta de preços das commodities, desvalorização cambial e forte volume de exportações levou à explosão de preços no mercado interno de produtos como soja, arroz, algodão, proteína animal, aço, alumínio, papel e celulose.
Houve um grande gargalo logístico com a redução no número de voos internacionais. A Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo) afirmou que o tráfego aéreo de 2021 foi 66% menor do que o registrado em 2020. Houve queda na oferta, restrições de entradas em alguns países e encarecimento do frete aéreo, dificultando a importação de diversos produtos.
Estamos cada vez mais inseridos em um mercado mundial muito competitivo, onde temos concorrência de produtos feitos tanto em cidades vizinhas da América Latina, bem como distantes, vindos da China, Índia, Coréia e Rússia.
No passado, a área de compras era meramente burocratizada, sendo vista como um centro de despesas, onde os compradores enfocavam as suas atividades nos almoxarifes, e tinham as responsabilidades de realizar “algumas compras” para a fábrica, recebimentos e armazenagem de mercadorias, além de controlar as entregas e atrasos junto aos fornecedores.
Em sua maioria, as compras eram realizadas por um “gerente” da fábrica, sem a realização de concorrência ou até mesmo um pedido formal. O comprador só tomava ciência na hora da chegada da mercadoria.
Atualmente, o setor de suprimentos tem à disposição uma série de tecnologias para ajudar no trabalho de gestão de empresas. Existem ferramentas como a Realidade Aumentada e a Robotização dos Processos Automatizados (RPA), que servem para auxiliar no abastecimento de dados, integração de novos fornecedores, requisições e ordens de pagamento, em que o “robô “ auxilia a criar códigos e garante que as requisições sejam preenchidas corretamente e o processamento dos recibos, que visa agilizar o processo de pagamento aos fornecedores. Há, ainda, a Big Data e a computação em nuvem, que podem tornar os processos muito mais dinâmicos.
A Indústria 4.0 modificou completamente a forma como as organizações funcionam e o setor de suprimentos, ou Procurement, passou a ser visto como área estratégica nas empresas. Por esta razão é preciso que o profissional da área de Suprimentos tenha habilidades estratégicas da cadeia de suprimentos, conhecimento da composição do custo dos itens comprados (TCO), ter a completa certeza de que o valor de matéria-prima, de mão de obra, de dgf de item comprado estão adequados ao mercado para que o preço final esteja alinhado ao mercado com valores competitivos.
Este profissional precisa dominar tributação, cálculo de frete com análise apurada para os casos CIF e FOB, histogramas, concentração de fornecimento, controle de BUDGET CAPEX, melhoria de processos de qualidade, capacidade de gerenciamento de relacionamento com fornecedores, dentre outras competências técnicas.
Toda empresa que opta por determinados fornecimentos julgando simplesmente o preço da proposta, terá problemas futuros na execução do seu projeto, principalmente quando se trata de empreendimentos de grandes valores. Contudo, não basta acesso a ferramentas altamente tecnológicas, sem profissionais altamente capacitados para gerir com autonomia e agilidade os processos, propor melhorias e soluções eficazes, e, assim, gerar redução de desperdícios e custos para as empresas.
Por possuir um perfil versátil e pró-ativo, o profissional de Engenharia de Produção tem sido requisitado para atuação na cadeia de suprimentos, além da expertise para analiticamente reinventar processos e racionalizar o uso de recursos disponíveis, reduzir ou realocar, fazendo sugestão de automação de diferentes processos para aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e maximizar os lucros.
Os conhecimentos técnicos adquiridos na universidade permitem a atuação desse profissional na área com inteligência de mercado, gestão de riscos, gestão de estoques, planejamento estratégico, PCP, análise de viabilidade econômica, finanças, gestão de prazos, liderança, gestão de projetos, negociação, habilidades interpessoais, dentre outras competências.
Com treinamento, qualificação e maturidade profissional, este engenheiro poderá ficar responsável pela elaboração de todo o planejamento de compras de uma empresa, o monitoramento e apresentação dos resultados à alta Diretoria Executiva e o contato com os principais parceiros do negócio.
Durante a pandemia, coube ao setor de compras acompanhar e gerenciar os contratos, reavaliando junto aos setores Jurídico e Financeiro, negociando cláusulas, otimizando os prazos de pagamentos para minimizar os impactos de cash flow das empresas através da ferramenta Spend Analysis e sincronizando as informações entre os stakeholders internos e externos, dentre outras contribuições.
Foram necessárias alterações de cronogramas de contratações, revisão de escopos dos serviços, negociações de itens de saúde e segurança dos trabalhadores, além de alteração na programação e planejamento das compras de estoque.
De acordo com empresas de RH surgiu uma alta demanda de contratação de especialistas e gerentes de compras durante a pandemia, uma vez que, diante de uma crise global, a expertise estratégica e conhecimento tático serviram de base na tomada de decisões.
Na área de suprimentos, há grandes possibilidades para os bons profissionais de construírem uma carreira promissora; é comum engenheiros proativos, com capacidade de liderança e negociação assumirem as Gerências e Diretorias das áreas.
A graduação prepara engenheiros criativos para conceber, projetar, implantar e gerir sistemas produtivos inteligentes, considerando não apenas sistemas mecânicos, mas outros também, como o varejo, a indústria, a área de vendas, planejamento de obras civis, logística, bancos, alimentos, hospitalar e outros.
Um hotel precisa dimensionar a compra de alimentos, bebidas, itens de cama, mesa, banho, serviços de manutenção e outros, de maneira que não faltem, tampouco haja perda por obsolescência. Uma rede de supermercados precisa dimensionar estoques, um centro de distribuição precisa de engenheiros para atuar com análises criteriosas e indicadores de desempenho das variáveis que envolvem a tomada de decisões. A otimização e a modelagem de processos melhora os resultados financeiros e gera ganho de tempo em diferentes áreas das empresas.
Estes foram exemplos citados que mostram o que pode fazer um engenheiro de produção, tendo por base sua formação eclética, porém, esse profissional precisa ter a capacidade de enxergar novas perspectivas e evoluir.
Como dizia Benjamin Franklin: “Aquele que tem uma profissão tem um bem; aquele que tem uma vocação tem um cargo de proveito e honra.”
Descubra o seu propósito! Até a próxima resenha.
Curiosidade
A Engenharia de Produção surgiu em 1959, no Brasil, como uma derivação do curso de Engenharia Mecânica. É uma modalidade que projeta e gerencia processos produtivos ligados às organizações dos mais diversos setores, seja de manufatura, de transformação, de serviços hospitalares, serviços financeiros, o varejo que se refere à logística e o setor de alimentos, entre outros tantos.
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