O gerenciamento de riscos é um dos principais fatores atribuídos ao sucesso dos projetos, porém, muitos não auferem os resultados esperados por falhas na etapa de planejamento. Uma causa comum para o não atingimento dessas metas são as eventualidades (riscos) não esperadas que acometem o projeto durante sua fase de execução, em razão destas, muitas vezes, não serem previstas durante o planejamento.
O guia PMBOK (PMI, 2017) aponta a análise qualitativa dos riscos como um processo de priorização de riscos individuais do projeto. A NBR ISO IEC 31010 explica que a técnica de provisão de probabilidade é utilizada no processo de riscos quando os dados históricos forem indisponíveis ou inadequados, sendo necessário deduzir a probabilidade para produzir uma estimativa da probabilidade do evento principal. Mas e na ausência de dados históricos? Uma das técnicas preconizadas pelo PMBOK (PMI, 2017) é a opinião especializada, que é fornecida com base na expertise de um especialista.
O problema que se encontra em se trabalhar com a opinião especializada é que ela pode conter alto grau de incerteza devido aos vieses atrelados a ela. Conrow (2003) afirma que as definições para as declarações de probabilidade são interpretadas de forma diferente por diferentes analistas. Se, por exemplo, alto é definido como 0,75 (mas o especialista acredita que é muito menor, digamos 0,45) e médio é definido como 0,50, o especialista pode escolher pontuar um item como tendo um nível de probabilidade médio devido à contradição potencial entre a definição da palavra e a pontuação numérica fornecida.
Considerando o exposto, o método aqui demonstrado procura reduzir a subjetividade nos valores de probabilidade da análise quantitativa dos riscos do projeto, através de uma combinação de 4 diferentes técnicas: Avaliação de Probabilidade x Impactos; Opinião Especializada; Lógica Fuzzy; e Coleta de dados – Entrevistas.
O método toma como base o processo de gerenciamento de riscos do PMI e para a etapa Realizar a Análise Qualitativa dos Riscos, se apoia na sistemática desenvolvida por SALAH (2015). Já para a etapa “Realizar a análise quantitativa dos riscos” este método propõe uma abordagem que permite realizar a transição sistemática do processo da Análise Qualitativa para o processo a Análise Quantitativa. Isto vem de encontro às lacunas que, conforme Salah (2015), não consideram a incerteza e a probabilidade de ocorrência associada à imprecisão de cada item de risco.
Após a etapa qualitativa os riscos classificados como relevantes para o projeto seguem para a etapa quantitativa, onde recebem os atributos que estão correlacionados com as suas probabilidades de ocorrência. Os atributos de cada risco devem ser extraídos através de uma consulta ao especialista por meio de entrevista, com os seguintes questionamentos: 1) Quais foram os atributos que o levaram a classificar o risco (Rn) com uma probabilidade P de ocorrência? onde P denota a probabilidade linguística informada pelo especialista na qualitativa (Ex.: Baixa, Média ou Alta). 2) Utilizando uma avaliação qualitativa, quanto você considera que este atributo é relevante para que a ocorrência deste risco seja P? Pouco relevante, Relevante ou Muito relevante?
Dessa forma, após as “n” iterações, todos os riscos terão seus atributos e respectivos pesos correlacionados. E então tem-se o valor da probabilidade de ocorrência do risco em função dos atributos que foram relacionados a ele. Aplicando-se aos riscos do projeto, teremos os EMV’s para cada risco e, somando-se todos os EMV’s teremos o EMV total do projeto. Nos casos em que vários especialistas atuem, é recomendável a aplicação do Controle Estatístico de Processos (CEP) a fim de minimizar possíveis distorções.
Aplicação em um Estudo de Caso
O projeto escolhido para aplicação do estudo de caso foi a construção de um edifício residencial de padrão alto, localizado na Lagoa/RJ. Para colaborar com este estudo, foram convidados 5 especialistas. A consulta aos especialistas foi dividida em duas etapas. Na primeira, o especialista realiza a análise qualitativa dos riscos previamente identificados. Já na segunda, é realizada a análise quantitativa da probabilidade destes riscos. Por se tratar de um projeto já executado, os riscos identificados serviram de entrada para este trabalho, e consiste em uma lista de 29 riscos.
1ª Iteração – Resultados do Especialista 1
Dos 29 riscos analisados na qualitativa, 76% seguiram para a etapa 2. Na análise quantitativa (etapa 2) foram convertidas as variáveis qualitativas da probabilidade em um % numérico pela opinião do especialista (Coluna 4 da Tabela 4). Além da probabilidade pela opinião do especialista, a Tabela 4 traz também o cálculo da probabilidade resultante dos pesos atribuídos para cada atributo em cada risco (Coluna 11 da Tabela 4). A Tabela 4 apresenta um estrato dos resultados obtidos com a aplicação do método para o especialista 1.
Considerando os dados completos de probabilidades da Tabela 4, foi possível verificar que em 95% dos riscos, a probabilidade coletada pela opinião do especialista e aquela apurada pelo cálculo dos pesos dos atributos varia de 0% a 12%, sendo que a variação média é de 7%.
A Tabela 5 apresenta um estrato dos EMV’s para cada risco, em duas situações: (1) utilizando a probabilidade da opinião do especialista (Col.2) e (2) utilizando a probabilidade resultante do cálculo dos atributos (col.4). O mesmo processo é aplicado para a opinião de mais 4 especialistas e assim foi possível comparar e analisar os resultados dos dados dos 5 experimentos.
As variações entre as probabilidades pela opinião do especialista e a calculada podem ser vistas no gráfico da Figura 5, onde mostra que a variação média encontrada foi de 11,85% (em valores absolutos).
Com a aplicação do CEP, a nova média do processo passa a ser 9,58%, conforme Figura 7, o que mostra que, em média, a probabilidade informada pelo especialista com base na sua experiência difere em 9,58% daquela encontrada quando se calcula o valor através da extração dos atributos. Isso indica uma redução de 2,27% após a aplicação do CEP.
Discussões e Conclusões
De forma geral, variações não são interessantes para o projeto. Uma análise de risco pouco criteriosa na etapa de planejamento pode levar o empreendedor a um entendimento equivocado sobre a viabilidade de determinado projeto. Pela aplicação do método proposto, foi possível reduzir a subjetividade da opinião do especialista para a variável P (probabilidade). Além disso, ao extrair atributos, foi possível conhecer mais profundamente quais os fatores que atuam sobre determinado risco e, em que grau de relevância, explicitando o conhecimento que antes era inerente apenas ao especialista, fruto de sua experiência.
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