A busca pela solução de menor custo deve ser sempre a meta do projetista, desde que devidamente embasada nos aspectos técnicos e de segurança.
Quando entrei no mercado da engenharia, na década de 60, no Brasil, as obras eram estudadas, projetadas e executadas com acompanhamento técnico. Nas últimas décadas, essa prática foi sendo reduzida gradativamente e passou-se a licitar sem os devidos estudos e projetos executivos.
Até os anos 80, um mercado com boa oferta e serviços e preços realistas permitia aos executores das obras programar estudos complementares, promover revisões dos projetos e acompanhar pari passu a sua execução.
Em uma obra de engenharia, além, evidentemente, dos aspectos técnicos, a questão econômica é determinante na escolha da melhor solução. Em um quadro de escassez de recursos federais, estaduais e municipais, a correta aplicação das verbas disponíveis precisaria ser um objetivo constante dos órgãos públicos, o que não vem acontecendo.
Os riscos econômicos e humanos ao se adotar uma solução que, devido ao baixo custo, deixe a desejar tecnicamente, são muito altos e devem ser avaliados criteriosamente por parte dos projetistas e dos proprietários (poder público, em grande parte dos casos). A busca pela solução de menor custo deve ser sempre a meta do projetista, desde que devidamente embasada nos aspectos técnicos e de segurança.
Para compensar a carência de estudos, os projetistas passaram a superdimensionar as obras. O grande desafio para a redução dos custos é a utilização de novas tecnologias. É preciso incentivar as pesquisas, com o apoio das universidades e a participação das empresas de engenharia, pois só dessa forma será possível adquirir conhecimentos e utilizar experiências práticas para chegar a soluções inovadoras e de menor custo.
Como fator relevante para a excelência das obras, destaco o acompanhamento do desempenho da pós-construção. O Sistema de Gestão da Qualidade ISO-9001:2015 preconiza que todas as obras sejam entregues com um documento denominado “Manual do Usuário”. Esse é o caminho para que as obras sejam devidamente acompanhadas, definindo-se as responsabilidades.
Não se pode culpar apenas os contratantes. As empresas de engenharia, por mais absurdo que possa parecer, ainda oferecem descontos sobre os preços para ganhar obras públicas. Os contratantes alegam que a maioria das obras é realizada dentro de padrões de desempenho, prazo e qualidade satisfatórios.
Como fica a responsabilidade dos governos e das empresas com obras apenas satisfatórias e, quando muito, provendo o mínimo cumprimento das exigências técnicas e legais? E a sociedade, em todos os níveis, diante dessas obras? Como fica o papel da engenharia, diante dessas obras realizadas com equipamentos sucateados e canibalizados, carente das modernas e consagradas ferramentas de gestão, por falta de recursos, provocada pelas obras a preço de custo, quando não bem abaixo?
As obras públicas jamais deveriam ser iniciadas sem projetos executivos. Por mais que haja pressa ou razões político-partidárias, nada há que justifique obras como vêm sendo executadas pelo país afora, sem projetos executivos e sem os estudos prévios.
É também triste constatar que, lamentavelmente, hoje exige-se sempre o menor preço em vez do melhor, que é o que propicia qualidade e segurança.
A Qualidade não é uma piada!
Instados a praticar preços vis, receio que a qualidade foi abandonada. O que se deve é lutar pelo melhor e não pelo menor. E o melhor é aquele que garante a qualidade, a segurança e a vida longa da obra.
É nos momentos de crise que temos de somar forças: políticos e sociedade civil precisam se unir agora e promover uma mudança radical no país, além dos interesses político-partidários e pessoais. Pensar no Brasil e não ficar “cada um no seu quadrado”. Todos somos culpados do que está acontecendo. Os políticos, a oposição e o governo não se empenharam como deveriam. Pensaram primeiro em se manter no poder e, por último, no bem do país. A sociedade civil é culpada porque não exigiu as mudanças.
No setor privado, as exigências legais empurram cada dia mais trabalhadores para a informalidade e os mais qualificados se transformam em pessoas jurídicas para manter ou não perder empregos. Atualmente, mais de 40% da população economicamente ativa estão na informalidade. Se as regras fossem mais flexíveis e menos onerosas para as empresas, o número de trabalhadores formais seria bem maior. Os sistemas tributário e trabalhista são de tal ordem intrincados no Brasil que encarecem sobremaneira os produtos e serviços produzidos no país. Isso faz sentido?
Os meios de comunicação e a internet levam informação a todos. O Brasil é um país de empreendedores. Se os governos, em vez de tentarem proteger uns e outros, criassem facilidades para que se pudesse trabalhar e gastar dinheiro, o país poderia seguir a trilha do crescimento sustentável.
É hora de mudar. Governo e partidos políticos precisam trabalhar juntos para que o país volte a crescer. Acabar com as benesses e investir em produtividade são o único caminho possível.
Hoje os jovens estão novamente sem perspectivas e é fundamental e importantíssimo os investimentos na educação pública.
Não se pode sequer considerar e nem almejar cortes nas pesquisas que geram inovações. Nossa linha é a ciência, a tecnologia e a inovação.
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