Exploração na Bacia do Paraná no período 1953-1998: o legado da Petrobras
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Desde que os europeus começaram a frequentar o Rio de Janeiro, nos anos 1500, eles sabiam que a entrada da Baía de Guanabara era fácil de encontrar. Na falta de GPS, de cartas náuticas confiáveis ou de faróis de navegação, os navegantes se guiavam pelo enorme monolito “pontudo” para localizar a boca da baía.
Não se sabe como os nativos da época chamavam aquela pedra gigantesca, mas o nome português pegou: Pão de Açúcar. Aos olhos de quem entrava na baía pelo mar, a rocha lembrava as formas cônicas de madeira que eram usadas na época para transportar açúcar “em pedra”.
Não há como negar a semelhança. Os visitantes que observam o monumento da Praia Vermelha, de Niterói ou do Flamengo (onde é possível observá-lo mais de perto) podem se perguntar: Como essa montanha se formou? Como foi esculpido seu formato peculiar, com paredões verticais caindo direto no mar?
Quem observa o paredão pelo norte (do Aterro do Flamengo, por exemplo), percebe as camadas claras e escuras caprichosamente dobradas da rocha. Como teriam se formado estas estruturas? São essas que iremos responder a seguir.
A formação do continente Gondwana
Desde que o geógrafo Alberto Ribeiro Lamego publicou seu trabalho pioneiro intitulado Escarpas do Rio de Janeiro, em 1938, gerações de cientistas vêm estudando como se formaram as rochas e montanhas da cidade. O que se descobriu, ao longo de décadas de investigação científica, é que o Pão de Açúcar e as montanhas vizinhas são o registro de uma longa história geológica marcada por mudanças dramáticas no planeta.
Durante a era Neoproterozoica, entre um bilhão e 530 milhões de anos atrás, o deslocamento das placas tectônicas levou à colisão de vários continentes antigos para formar o continente Gondwana. A maioria das rochas do Rio de Janeiro se formou durante esta etapa da história geológica.
A cordilheira do Himalaia, por exemplo, foi formada pela lenta colisão entre a Índia e a Ásia. As margens dos antigos continentes se acavalavam umas sobre as outras, formando expressivas cadeias de montanhas. Montanhas assim, hoje erodidas, existiram onde hoje fica o Rio de Janeiro e estados vizinhos do litoral, como Espírito Santo e São Paulo.
Este processo tectônico, chamado de orogenia, soterra porções da crosta terrestre sob dezenas de quilômetros, onde as temperaturas atingem mais de 600 ºC. O calor é suficiente para derreter as rochas e dar origem a grandes volumes de magma, que nada mais é do que rocha fundida.
Os estudos geológicos mostram que a rocha que compõe o Pão de Açúcar – chamada Gnaisse Facoidal – foi originalmente um granito formado nas profundezas da crosta terrestre a partir do resfriamento de um bolsão de magma. Os geólogos usaram técnicas isotópicas de datação de minerais, baseadas na transformação radioativa do Urânio em Chumbo, para calcular a idade de formação da rocha.
O Gnaisse Facoidal se formou há 560 milhões de anos, época que marca o auge da colisão continental. A deformação intensa sob alta temperatura transformou o granito em uma das rochas mais características e utilizadas em construções e monumentos do Rio de Janeiro.
Ele é facilmente reconhecível por sua estrutura ondulada. Os característicos cristais de feldspato brancos lembram o formato de olhos. Basta uma visita ao prédio do Arquivo Nacional ou à famosa Mureta da Urca para encontrar o Gnaisse Facoidal.
A pergunta que resta é: como uma rocha formada a quilômetros de profundidade veio parar na superfície?
A quebra do continente Gondwana e a separação Brasil-África
Durante a longa vida do continente Gondwana, ao longo das eras Paleozóica (de 530 a 250 milhões de anos atrás) e Mesozóica (de 250 a 65 milhões de anos atrás), a lenta erosão das cadeias montanhosas da região removeu todas as rochas superficiais, trazendo gradativamente à superfície as rochas formadas a quilômetros de profundidade.
Este intervalo relativamente calmo, em termos geológicos, prosseguiu até cerca de 130 milhões de anos atrás, no Período Cretáceo, quando iniciou-se uma nova etapa da tectônica de placas. Gondwana começou a se dividir em continentes menores (América do Sul, África, Austrália, Antártida), o que modificou drasticamente a geografia do planeta. A separação entre a América do Sul e África, por exemplo, levou à formação do Oceano Atlântico, que ainda hoje se alarga alguns centímetros por ano.
Os movimentos da crosta durante o Período Cretáceo tiveram consequências duradouras no relevo da serra e litoral brasileiro. Alguns blocos da crosta se elevaram enquanto outros se abateram, formando o relevo escalonado em que se alternam a Serra do Mar, a Baixada Fluminense e a Serra da Carioca – da qual faz parte o Pão de Açúcar.
Para ter uma ideia da magnitude desses movimentos verticais: a diferença de altitude entre a Baixada Fluminense e os picos da Serra dos Órgãos é de mais de dois quilômetros.
O sobe-e-desce da crosta explica a exposição do gnaisse na superfície, mas não o formato peculiar do cartão-postal do Rio de Janeiro. Isso é culpa de uma nova etapa tectonicamente ativa na crosta terrestre, que ocorreu entre 65 e 50 milhões de anos atrás. Após a separação entre América do Sul e África, e com o Oceano Atlântico em expansão, surgiram novas zonas de fraturas e deslocamentos verticais, que resultaram nos grandes paredões do Rio de Janeiro.
A erosão atua mais intensamente nas rochas mais fraturadas, escavando vales ao longo do alinhamento das grandes falhas geológicas. O formato peculiar do Pão de Açúcar é resultado desse processo que persiste até hoje.
O processo que moldou o Pão de Açúcar pode causar até eventuais desmoronamentos de rochas, ameaçando a população do Rio de Janeiro. Gigantescos blocos de gnaisse (resultado do deslizamento) podem ser observados ao pé do paredão sul do Pão de Açúcar, na Pista Cláudio Coutinho.
O clima tropical e a erosão são escultores lentos e pacientes, porém implacáveis, deste singular monolito – um verdadeiro monumento geológico que encanta visitantes desde o Século XVI, bem como cariocas do passado e do presente.
* Este texto é do acervo do Blog Deriva Continental, da Sociedade Brasileira de Geologia em parceria com a revista Super Interessante.
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