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Desde a Revolução Industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII, o modo de vida da população mudou radicalmente. Em busca do desenvolvimento econômico, fomos nos tornando majoritariamente urbanos, e hoje, vivemos em cidades cada vez maiores, aumentando o consumo de recursos naturais, que se elevou a níveis jamais vistos e, por consequência, a degradação ambiental também.
Desenvolver significa aumentar a capacidade. Na etimologia da palavra o sufixo “des” é a negação e o radical “envolvere” corresponde ao que está em volta, então desenvolver é negar seus limites para poder transbordá-los e crescer. Ao projetar tal ideia para as cidades, o desenvolvimento significa negar a natureza do entorno para continuar avançando com a urbanização. Assim, a expansão da ocupação humana tem sido uma luta entre sociedade e natureza, com a imposição do nosso modo de vida urbano. O resultado é a piora na qualidade ambiental das cidades, com poluição dos rios e mar, do solo e do ar.
Aos poucos vamos tentando doutrinar a natureza, conhecer seus limites e os nossos, e assim monitoramos a quantidade e intensidade das chuvas, a qualidade da água e do ar, a fim de reduzir os riscos ambientais no ambiente urbano. No entanto, não temos o controle sob os riscos biológicos aos quais nos submetemos, cada vez que avançamos sobre o ambiente natural. Como resultado, surgem epidemias advindas de zoonoses, como o Hantavírus, que veio dos roedores; a febre amarela, dos macacos; a influenza, dos pássaros; e o Coronavírus, causador da Covid-19 que, ao que tudo indica, veio dos morcegos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a letalidade da Covid-19 é baixa, mas como tem capacidade de transmissão muito alta, eleva bastante o número de óbitos. Sem medicamento capaz de combater o coronavírus, e iniciando a vacinação para imunizar a população, a medida mais eficaz é o distanciamento social. Em casos extremos é adotado o isolamento social, quando as pessoas não devem sair de suas casas para impedir a propagação do vírus, o lockdown.
O lockdown foi adotado por diferentes países, inclusive o Brasil, em março de 2020. Grande parte do comércio, serviços e das indústrias foi fechado e, com mais da metade da população em casa, houve uma mudança no cotidiano das famílias. Menos circulação de pessoas, menos lixo, menos transportes, por consequência, menos gases dos motores à combustão foram emitidos e, assim, o ar ficou mais puro nos países confinados por conta da ameaça do coronavírus.
O satélite da Nasa mostrou que em fevereiro de 2020, a concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) caiu drasticamente em Wuhan, na China, onde a Covid-19 foi detectada inicialmente. O mesmo foi confirmado em março de 2020 no norte da Itália, confinado há semanas para evitar a propagação da doença. O gás é produzido principalmente por veículos e usinas termelétricas, sendo um bom indicador da intensidade das atividades humanas.
O que se viu na China e Itália ocorreu nas semanas seguintes nas principais capitais brasileiras. Como o isolamento social por aqui se iniciou no fim da primeira quinzena de março de 2020, já no final do mesmo mês as melhoras puderam ser percebidas. Em São Paulo, o monitoramento de qualidade do ar da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), mostrou que a emissão de três poluentes foi reduzida a menos da metade na grande maioria das estações de monitoramento no período de uma semana, entre 19 e 25 de março. Foram analisadas nove estações para monóxido de carbono, cinco para dióxido de nitrogênio e oito para material particulado. Apenas Santo Amaro não apresentou redução no valor diário de emissões do poluente monóxido de carbono (CO).
No Rio de Janeiro, foram analisadas oito estações de monitoramento da qualidade do ar da rede da prefeitura do Rio de Janeiro, MonitorAR Rio. Utilizando cinco diferentes poluentes (monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, material particulado, dióxido de enxofre e ozônio) foi calculado o índice de qualidade do ar em cinco níveis: boa, regular, inadequada, má e péssima. Em 19 de março as estações Centro, Copacabana, Tijuca, São Cristóvão e Bangu apresentavam qualidade regular, enquanto Irajá, Campo Grande e Pedra de Guaratiba tinha nível bom. No dia 25 os índices foram visivelmente melhores que na semana anterior, pois todas as estações apresentavam boa qualidade do ar.
Um ano depois, estamos assistindo a um novo lockdown na Europa, enquanto no Brasil resistimos a essa ideia, apesar da pandemia estar provocando recordes de casos e óbitos no país nesse momento. A melhora na qualidade do ar é uma excelente aliada para o enfrentamento do coronavírus. O ar poluído, embora nos pareça invisível, contém partículas finas que ficam em suspensão na atmosfera e, ao serem inalados, penetram profundamente no trato respiratório, causando insuficiência respiratória, doenças cardíacas, hipertensão, condições que acentuam as complicações em pacientes com coronavírus.
No entanto, esta melhora ambiental tem também um custo econômico muito alto que está envolvendo a perda de empregos e a redução de ganhos de muitas famílias. É uma situação momentânea, pois assim que passarmos por esse problema de saúde mundial, aos poucos retomaremos nossas antigas rotinas. O ritmo de produção industrial voltará a ser como antes, ou quem sabe até mais intenso para recuperar o tempo perdido.
Parece que vivemos diante de um paradigma: um mundo mais limpo e com a população presa em casa e com menos oportunidades ou um mundo mais poluído com liberdade plena de circulação e consumo. Não é isso. Precisamos decidir se realmente desejamos um mundo mais limpo e a partir daí repensar nossos hábitos, fazendo com que sejam mais sustentáveis. A pandemia tem mostrado o quanto o nosso modo de vida é nocivo ao planeta e, por isso, é preciso um consumo consciente, pois o que escolhemos para nós impacta na vida de todos.
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